É isso. Vivo um momento escatológico. E não estou falando de cropologia, caso for procurar na wikipedia.
Sou terrorista de mim mesmo. Resolvi que estou em um estado de criogênese imprópria. Congelo minha vida, para poder remediá-la após a minha morte. Não o contrário.
Não sei mais viver sem mim. Sou eu, sou eu sou eu. Sou EU. Não me permito sair de mim mesmo, agora que me encontrei.
Mas, quem sou eu?
Serei eu o prisioneiro que é açoitado pelo feitor, ou sou o feitor que açoita o prisioneiro?
Sinceramente, eu preferiria ser o açoite. Não quero ser nem um, nem outro. Quero ser o instrumento, ao instrumentador.
Alguns momentos, eu prefiro ser o próprio atraso do tempo, a ser quem deu causa ao atraso. Afinal, quem dá ensejo à mora deve arcar com juros, multas e demais cominações convencionadas.
Mas e o próprio atraso? Alguém se preocupa com o tempo perdido?
Não. Ninguém liga se um prego enferruja na parede. Substituem-no por outro, mais novo.
Ninguém se acautela em verificar se as notas rasgadas ou rasuradas vão realmente para o Banco Central. O que ocorre com elas? São incineradas? São postas fora?
Não, ninguém liga para o irrelevante. O Relevante é o modismo. Não tenho tempo para isso. A felicidade me atrapalha, minha plena saúde me incomoda, minha rica conta bancária me sufoca. Meu próprio intelecto me afugenta.
Então, não me quero mais. Posso me jogar fora.
Preciso ser um pouco nada. Quero não ter nada, quero ser apátrida, quero ser apolítico, quero ser ateu. Quero não ter ninguém para chamar de meu. Quero não ter meus para chamar de ninguém. Não quero nada.
O nada. O silêncio. Um quadro em branco. Vazio. Sombra. Terra suja, monte líbano. Pena de pardal. O vento no litoral...
Ah, o vento no litoral... terra fofa de cemitério. Boa para plantar? fala, tio avô. Diz, vô. Diz vó. Diz vô. fala, tia avó.
Quero ser peixes de aquário. Sem fungos, fungos os matam. Não se lembram de você. Sua memória é curta, provavelmente não se lembram do último segundo antes de darem uma volta inteira no vidro.Mas continuam peixes. Um peixe é um peixe, embora não seja o mesmo peixe a cada segundo que passa.
Já dizia uma música: A cada passo que dou, chego mais próximo do meu último. A cada suspiro, me leva mais próximo do meu último.
BIAL "- É chegada a hora. Com 98% dos votos, quem sai da casa é você. Vem pra cá!" (Quem foram os malditos 2%?)
Eu não gosto de vocês, senhores "2%". Sério, alguém liga para o que eu digo? Não há coisa melhor a se fazer?
Me deixa em paz... e me chama o garçom. Vou pagar a ele apenas 2% de gorjeta. Mas quero saidera, pois aprendi a gostar de álcool.
Para o paramédico, digam que sou alérgico a penicilina. Mas não quero glicose. Deixem um pouco de sangue no meu álcool.
E quero meu óbito seja atestado pessoalmente por médicos, pois tenho muito frio para ficar vivo em alguma geladeira. Eis minha disposição de última vontade. Meu Codicilo.
Tinha falado para um professor que gostaria de uma banda de rock progressivo tocando no meu funeral. Avisem-no que não. Quero SILÊNCIO. Não quero choradeira, não quero rezadeira. CALADOS. Só o barulho do sino já deve ser um porre. As correntes descendo o caixão, pior ainda. Terra boa pra plantar... é ruim, tio avô.
Cicuta... pode? Que forma de suicídio mais demodê.
Só isso. Deixa quieto, vai?
Obrigado.